Vigilância epidemiológica de endoftalmite e síndrome tóxica do segmento anterior após cirurgias de catarata: identificação e seleção de marcadores

LUZ, Reginaldo Adalberto

Resumo: Introdução: Entre os possíveis Eventos Adversos (EA) mais importantes após cirurgias de catarata estão a endoftalmite, termo que define a infecção intraocular e a Síndrome Tóxica do Segmento Anterior (TASS), que consiste na reação inflamatória aguda pós-cirúrgica. Contudo, um sistema de vigilância epidemiológica (VE) da ocorrência destes EA não é uma realidade no Brasil, o que dificulta o monitoramento da incidência, detecção precoce de surtos e as medidas de prevenção. Devido as especificidades no campo da oftalmologia, nem sempre o enfermeiro está suficientemente instrumentalizado para contribuir na detecção e monitoramento de casos. A identificação de marcadores destes EA factíveis de serem acompanhados por este profissional irá favorecer o desenvolvimento de um sistema de VE. Objetivo: Identificar os marcadores mais adequados para o diagnóstico epidemiológico de EA após cirurgias de catarata visando à instituição de um sistema de VE específico. Métodos: Trata-se de um estudo longitudinal de série de casos de pacientes submetidos a cirurgias de catarata, realizado em duas etapas. Etapa I: abordagem retrospectiva por meio de revisão de prontuários dos pacientes com diagnóstico de EA (21 casos) no período de abril/2010 a fevereiro/2013. Etapa II: abordagem prospectiva por meio de revisão de prontuários dos pacientes submetidos à cirurgia de catarata sem EA (309 controles) nos meses de maio e junho/ 2013. A amostra baseou-se em um teste de proporções entre duas amostras assumindo que a amostra de controles seria 15 vezes maior que a de casos para detectar uma diferença de pelo menos 35 pontos percentuais na incidência da apresentação de características clínicas entre os dois grupos com erro tipo I de 5% e poder do teste de 90%. As variáveis pesquisadas foram os sinais e sintomas característicos do pós-operatório de cirurgias de catarata bem como informações demográficas e clínicas destes pacientes. Foi realizada estatística descritiva por meio de frequências relativas e absolutas. Resultados: Pacientes com EA apresentaram o diagnóstico de endoftalmite e TASS, respectivamente, em 19 (90,5%) e dois casos (9,5%). Dentre os casos, os sinais mais observados foram: córnea nebulosa, reação de câmara anterior (RCA), edema de córnea (>70%) e hipópio, hiperemia conjuntival, turvação vítrea e dobras na membrana Descemet (>40%). Dor ocular foi o sintoma relatado por 14 (66,7%) dos pacientes. Dentre os controles, no primeiro dia após a cirurgia os sinais mais apresentados (>50%) foram: RCA, edema de córnea, hiperemia conjuntival e dobras na Descemet. Córnea nebulosa e edema palpebral em mais que 30% dos pacientes. Os sinais e sintomas que apresentaram diferença maior que 35% entre os casos e controles foram: presença de hipópio, vítreo turvo, córnea nebulosa. RCA, hiperemia conjuntival, edema de córnea e dor ocular. A incidência de aplicação de antibiótico intra-vítreo e número de retornos foram maiores entre os casos do que nos controles. Uma ferramenta para auxiliar no sistema de VE foi sugerida a partir dos resultados obtidos no presente estudo. Conclusões: Os marcadores clínicos e epidemiológicos considerados mais adequados para compor uma ferramenta para VE foram: dor, edema de córnea, hiperemia conjuntival, hipópio, RCA, vítreo turvo, aplicação de antibiótico intra-vítreo e número de retornos. A ferramenta proposta por este estudo tem potencialidade para subsidiar a atuação do enfermeiro no sistema de VE de EA para cirurgias de catarata.
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