Infecções relacionadas à assistência à saúde e internações por condições sensíveis à atenção primária: há alguma associação?
PORTO, Ercilia Evangelista
DOI: https://doi.org/10.11606/D.7.2020.tde-09122019-173216 Ano de publicação: 2019
Resumo:
Introdução: As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde se tornaram um grave problema mundial de saúde pública e de segurança do paciente, em cuja prevenção a enfermagem tem enorme contribuição. Nos sistemas de saúde, a Atenção Primária à Saúde é considerada um elemento chave, sendo responsável pelo seguimento longitudinal dos indivíduos e suas famílias. Um dos indicadores utilizados para avaliar a eficácia da Atenção Primária à Saúde é composto por uma lista de condições denominadas Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária. A hipótese principal desse estudo é que pacientes cujo motivo da hospitalização foram Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária podem ser mais vulneráveis à aquisição de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde. No entanto, não encontramos estudos anteriores que investigaram a associação de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária com a aquisição de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde. Objetivo: Identificar se existe associação entre Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária e aquisição de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde. Método: Trata-se de um estudo epidemiológico de coorte, conduzido em hospital público de atendimento terciário do Estado de São Paulo. A amostra incluiu 605 pacientes adultos recrutados após 48 horas de internação e acompanhados até o aparecimento das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde ou por um período máximo de 30 dias. Os casos de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde foram identificados pela equipe hospitalar da Comissão de Controle de Infecção de acordo com seu processo de rotina, utilizando critérios padronizados. Utilizou-se questionário estruturado para caracterizar o perfil demográfico, socioeconômico e de saúde dos participantes. As variáveis relevantes de morbidade e de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária foram coletadas do prontuário médico eletrônico médico do participante; a ocorrência de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária foi definida de acordo com a lista nacional brasileira. Os dados foram apresentados com análise descritiva e univariada com nível de significância p < 0,05. Foram utilizados três modelos de análise estatística para avaliar o desfecho diante de variáveis socioeconômicas e clínicas selecionadas: 1) Modelo de regressão logístico; 2) Modelo de regressão multinível e 3) Estudo de caso-controle aninhado, utilizando o escore de propensão para pareamento dos casos. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e do Hospital das Clínicas. Resultados: Dos 605 participantes identificamos 4,5% episódios de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde; 8,3% pacientes com Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária e 0,8% com pacientes Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária e que adquiriram Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde. Houve predomínio do sexo masculino e de brancos entre os grupos com Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde e com Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária; a idade média variou de 52,3 a 58,5 anos. A média dos anos de estudos entre os grupos variaram entre 7,5 anos a 8,8 anos. A renda familiar média mensal no grupo com Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária e Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde foi a menor (R$ 1.308,60). Houve predomínio da população do município de São Paulo, que apresenta Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 0,805 e Índice de Gini de 0,62. A infecção do sítio cirúrgico foi a mais frequente (21,8%, n=7). As Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primárias mais frequentes foram as doenças cerebrovasculares (31%) e diabetes mellitus (18%). Os modelos logísticos (regressão e multinível) revelaram associação entre as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde e as Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (respectivamente odds ratio de 2,960, IC95%: 0,9998,773; odds ratio de 2,877, IC95%: 0,960-8,262). Conclusão: Os resultados demonstraram uma associação entre as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde e Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária. As variáveis socioeconômicas não apresentaram associação com a ocorrência de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde e Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária. Ainda, não foi possível observar no desenho deste estudo se os determinantes socioeconômicos podem influenciar negativamente no processo de saúde com relação às Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde. Assim, fazem-se necessários mais estudos com outras abordagens metodológicas, como estudos multicêntricos e estudos mistos, para que seja possível explorar melhor o contexto socioeconômico e sua relação com o aparecimento das Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde.
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